segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Revisitando Radio Flyer


Revisitar esse filme anos depois trouxe pra mim um desejo de justiça. Não como uma vontade de provar que o filme merece um lugar entre os clássicos, nem tanto. A idéia é bem menos pretenciosa: mostrar que a obra, vista por muitos na sessão da tarde, vale a pena ser revista e tem potencial para se tornar até um cult.

Radio Flyer é um filme divertido para todos, mas com um final que desagradou a maioria do público e crítica. Começa por aqui, ele é narrado em primeira pessoa e tem nisso sua "raison d'etre", ou seja, apoia na narração de Mike (Tom Hanks) sua multiplicidade de sentidos. E é esse elemento que enriquece a obra, ao mesmo tempo que gera insatisfação nos expectadores mais sedentos por respostas.

O enredo é mais ou menos assim: Mike resolve contar para os filhos sobre sua infância na Califórnia, onde foi criado juntamente com seu irmão, Bobby ( Elijah Wood), numa família simples, apenas pela mãe e o padrasto. Sua história tinha muitas recordações boas, mas algumas péssimas lembranças, principalmente na relação com o padrasto alcólatra. Ele vai contando como seu irmão mais novo foi sendo violentamente agredido pelo padrasto, até o momento em que, inspirado em uma lenda local, resolvem construir um avião, acoplando asas e um motor de cortador de grama em um vagão de brinquedo "radio flyer". Esse avião serviu para o caçula Bobby fugir de casa e se distanciar da padrasto violento.

Apesar do tom "fantástico" do fim do filme,  o personagem-narrador trata como normal seu irmão ter fugido em um avião improvisado e viver viajando pelo mundo. E é isso que mais incomoda a maioria dos espectadores, que tendem a negar o filme instantaneamente.

Cabe lembrar que Mike é o tipo de narrador conhecido por aí como não-confiável, no caso não pelo seu caráter, mas pelo envolvimento na narrativa. Suas lembranças são tão inconfiáveis quanto as nossas, que pela perspectiva da psicanálise, são marcadas por "fantasias", lembranças deformadas por processos defensivos.

Muitas hipóteses para solucionar o aspecto fantástico do filme tem sido elaboradas. As mais famosas são:

* O irmão mais novo morreu violentado pelo padrasto e Mike conta essa história por não aceitar a morte dele;

* O caçula Bobby sequer existia, seria um fruto da imaginação do narrador e existe simbolicamente como um rito de passagem dele da infância para a vida adulta.

Aceitar uma dessas hipóteses significa reduzir os sentidos do filme e seus potenciais. Por outro lado, formular outras não esperando por respostas definitivas, seja pela perspectiva psicológica ou de enredo já ampliam nossa experiência com a obra.


Outros elementos simbólicos dão forma à história, como o tratamento da imagem, que reconstrói o clima quente da Califórnia e confirma o calor daquelas relações familiares. E o mais interessante são as imagens do padrasto, chamado de "The King" pelos garotos, sempre mostradas de baixo para cima, não mostrando seu rosto. Tudo isso, confirma a história narrada como parte de uma visão individual, construida numa mente infantil e sob forte emoções.

Essa estética simbolista de Radio Flyer já mostra que o filme merece ser visto e revisto por todos, mas sob uma ótica menos moralista daquela dos críticos da época em que foi lançado. Como, por exemplo, a visão do crítico americano Roger Joseph Ebert, que foi um dos responsáveis por rebaixar a obra dizendo que "o filme deveria propor um final melhor para o abuso infantil".

RADIO FLYER (1992) 114 min
Direção: Richard Donner
Roteiro: David M. Evans

6 comentários:

  1. Radio Flyer o menino morre, não por suicidio e sim por acidente, e se irmão enlouquece depois de ver a cabeça do caçula ser esmagada por um caminhão, por isso ele diz receber postais dele até hoje.

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  2. A madinha, vai procurar o que fazer. Quer dizer que o irmão se casa, tem filhos isso tudo mesmo sendo louco?kkkkk, cada uma

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  3. Mike é interpretado por Elijah Wood. Você coloca que Mike é o irmão mais novo, esta errado. Corrige aí por favor..Amo esse filme..

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  4. Filme completo aqui:

    https://mega.nz/#!o4Ax1CDK!mSBSIZTrQVxXxY2BMtwacD-DwVXxgBB5HGATYg6WxSU

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  5. Como o autor descreve, é uma história contada a partir das lembranças de uma pessoa que qd criança vivenciou traumas " o rosto do padastro nao é mostrado pq o medo fazia com que eles não o olhassem nos olhos e consequentemente nao criou lembranças. Acredito que parte do final do filme foi construído pela mãe, Bobby faleceu no acidente com o avião, e seu irmão com uma mente fantasiosa (negou a morte do irmao), acreditou ter visto ele voar. Com o tempo a propria mãe passou a colocar os cartões no correio para o filho, assim não lhe causaria sofrimento.

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