quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O homem com uma câmera + Cinematic Orchestra


Quando Diziga Vertov criou em 1929 o filme Homem com uma câmera, tentava buscar um cinema genuíno, longe da influência do teatro e da literatura. No fundo Vertov queria o que todos grandes cineastas buscam, captar melhor a realidade.

Esse filme é a experiência prática de sua teoria conhecida como Kino-Pravda (cine-verdade) ou Kino-glaz (cine-olho), em que a câmera deve se comportar como o olho humano e captar a "verdadeira realidade". Fora da obra sua teoria parece bastante limitada ao contexto histórico, algo apenas como uma das primeiras teorias justificam o cinema documentário.

Contudo, no contato com o filme, vemos que o diretor encarou o desafio e os dilemas de outra artistas ao tentar mostrar a complexidade do que chamamos de realidade, sem procurar simplificá-la. Foi, assim, que ele tornou O homem com uma câmera numa dessas experiências que o cinema nos reserva de mais tocante, num filme sensação.

Na sua representação da "verdadeira realidade" ele não poupa recursos técnicos de edição para criar efeitos e imprimir seu tom ao cotidiano da Rússia dos anos 20. As imagens vão se alternando entre o nascimento de um bebê em detalhes, atletas jogando futebol em câmera lenta, carros passando rápidos pelas ruas, repetições de trabalhadores nas fábricas, mulheres nas praias, etc.

E a prova de que Vertov topou o desafio da complexidade é a presença do cinema nessa realidade, ou seja, o envolvimento do cineasta com aquelas imagens. Isso pode ser comprovado em imagens do câmeraman se equilibrando em uma torre para filmar, ou de uma moça recortando os negativos de um filme para montar.

O autor não quer apresentar uma imagem pura e acabada da realidade, mas ao contrário, abusa de da forma para deixá-la repleta de subjetividade e de sentido.

É impossivel ver esse documentário e não se deixar levar pelo ritmo das imagens que vão se sucedendo, consequentemente pelas sensações e sentidos que elas produzem. O ritmo é tão tocante que alguns artistas já se aventuraram à sonorizar a obra.

De fato, Vertov já fez o filme pensando no seu sentido ritmico, sonoro; ele escreveu indicações para trilha sonora a fim de que fossem executada por um pianista na projeção. O norueguês Geir Jenssen à frente da Alloy Orchestra utilizou essas instruções na composição de novas músicas para o filme em 1996.

Mas a versão do filme que indico traz mais que um acompanhamento sonoro. Traz uma releitura contemporânea da obra feita pela Cinematic Orchestra, um grupo inglês de jazz eletrônico especializado em criar ambiente sonoros, ou cinematrográficos. A banda foi convidada a produzir uma nova trilha para o Homem com uma câmera e como viam o filme como um "poema sinfônico" procuraram ressignificar a obra através da interação entre som e imagem.

E é isso que vocês podem comprovar abaixo: uma versão sampleada do ritmo que Dziga Vertov
encontrou na Rússia no início do século, carregada de improvisação jazzística e musica eletrônica. A banda é formada pelo músico, compositor e produtor Jason Swinscoe e compostada de vários instrumentistas virtuosos.

Um comentário:

  1. Seu blog só está aumentado a lista de filmes que ainda preciso assistir.

    Muito bom sr. Fausto!!

    Continue compartilhando todo seu conhecimento com a gente.

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